sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Biblioteca

Quarenta anos de crise – Parte III

Um dia, não sei como, fui parar na prefeitura, e dei de cara com a biblioteca. Uma moça magra, alta e muito gentil e com interesse me atendeu. Explicou que somente poderia fazer carteirinha de leitor, passando a ser sócio da biblioteca, quando chegasse à quinta série. Não perdi tempo reclamando da má sorte. Comecei a esperar ansiosamente pelo “ano que vem”!
Não demorou. Um dia fui ao dentista, Dr. Vanderlei, depois do meio dia, já previamente combinado com minha mãe, que antes passaria na biblioteca para fazer a “carteirinha”. E fiz! Peguei o Livro “Macaco Simão”.
No livro dois ratos querendo repartir um queijo procuram por Simão, o macaco, para que lhes ajudasse na questão. O macaco partiu o queijo ao meio, mas não ficara bem dividido, e um dos ratos não querendo ser prejudicado na partilha, reclama. O Macaco coça a cabeça e decide comer um pedaço do queijo maior na esperança de igualar as partes. O que não acontece, e o outro rato agora reclama que a parte dele está menor. O macaco coça a cabeça outra vez, e sem ter nenhuma outra idéia, decide comer um pedaço da parte maior. O que tão pouco deu resultado, e outra reclamação se fez, o que resultou em mais menos um pedaço de queijo. Com a seqüência reclamações, o queijo acabou.
Fiquei olhando para o fim da história meio sem jeito. Os ratos de olhos esbugalhados e o macaco espantado olhando as próprias mãos espalmadas para cima e vazias. Não conseguia decidir se o macaco fizera tudo bem intencionado, ou fora de caso pensado. De qualquer maneira a culpa é dos ratos que para não ficarem com menos, acabaram sem nada. Ainda assim minha mente filosófica tinha mais uma questão a resolver: Ou o macaco não sabia dividir e comeu o queijo por não ter outra idéia melhor, ou enganou os gulosos; entretanto os camundongos somente foram enganados por que não sabiam dividir. Conclui então que: “quem não sabe dividir fica sem nada”.
Li três vezes a história antes de ser atendido, e sai do consultório e fui correndo para a biblioteca trocar de livro.
Decepção total! Com muito tato por se tratar de um menino franzino de dez anos que amava os livros, Iria Just, a guardiã da Biblioteca Pública, explicou que somente poderia trocar de livro no outro dia. Ela não me conhecia e acreditava que eu não lera o livro, mas que, conforme era costume das crianças, apenas olhara as figurinhas. Fui desolado para casa, mas firme, o outro dia já era amanhã. Fui deitar mais cedo para pensar bastante.

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